"A Festa da Cabeça": um Conto Infanto-Juvenil sobre Equilíbrio Emocional e Resgate da Ancestralidade Negro-Brasileira
Escrito pela educadora, contadora de histórias e equede de Candomblé, Kemla Baptista, o livro é uma importante lição sobre auto-cuidado e a descoberta da espiritualidade na juventude.
Ori, palavra da língua iorubá, significa "cabeça" e refere-se a uma potência espiritual que rege o destino. Ori é um conceito metafísico e mitológico muito importante para os iorubás, também conhecido como a partícula divina e individual, em toda sua força e grandeza.
Cultuar Ori não é buscar a perfeição, mas ser melhor todos os dias - para si mesmo, para a família, amigos e comunidade. Cultuar Ori é o passo fundamental para que os Orixás possam ajudar uma pessoa: de pouco importa se ela tem fluência em iorubá, conhece as rezas, aduras e orikis, ou sabe preparar as comidas que agradam as divindades: sem o consentimento do Ori, nada feito! Ser amigo de Ori é alinhar as crenças com os objetivos, se reprogramando através do autoconhecimento para, então, transformar a história da sua vida.
Mas, como explicar o que acontece quando Ori não é cultuado e cuidado para os jovens do século XXI?
A Festa da Cabeça, escrito por Kemla Baptista e ilustrado por Camilo Martins, cumpre essa missão com louvor ao contar a história do jovem Kayode e de sua viagem interior ao despertar da espiritualidade na juventude. Um menino esperto, ativo e com pais amorosos, mas que ao lidar com os desafios da pré-adolescência, o racismo e o bullying no colégio, carrega dentro de si uma tristeza que médico nem remédio algum conseguem aplacar. Nesse momento, apenas sua avó Bida sabe exatamente o que fazer para trazer o equilíbrio de volta para seu neto: resgatar a cultura ancestral da família, ensinando ao jovem neto a cuidar de si através de Ori.
Nas palavras de Roberta Frederico, psicóloga e escritora que apresenta a obra: "A Festa da Cabeça é o tipo de livro infanto-juvenil que deveria ser recomendado tanto às crianças, adolescentes e suas famílias, quanto aos profissionais de educação e de saúde mental que atendem a esse público. Trata-se de uma história protagonizada por Kayodê, mas que poderia ser também por Kauãs, Vitórias, Caíques, porque representa algumas situações que infelizmente ainda acontecem nas escolas como: bullying, racismo e medicalização da infância".
Em tempos de isolamento social e seus reflexos emocionais em toda a sociedade, A Festa da Cabeça chega como acalanto à juventude que já nasceu com smartphones em mãos. A delicada narrativa de Kemla Baptista, escrita em primeira pessoa, reflete as angústias e descobertas de Kayodê ao mergulhar dentro de si e encontrar a felicidade no seio das tradições de matriz africana.
A Festa da Cabeça
48 páginas
ISBN 9786586174090
Preço de capa: R$ 39,95
Disponível em www.arolecultural.com.br/shop/a-festa-da-cabeca e nas melhores livrarias do país.
Sobre Kemla Baptista (texto)
Pernambucana radicada no Rio de Janeiro, é contadora de histórias, mãe, pedagoga e empreendedora social. Idealizou há 11 anos o Caçando Estórias, iniciativa de arte e educação que apresenta as tradições afro-brasileiras para crianças através da contação de histórias, literatura e outras linguagens. Kemla faz parte da RIC - Red Internacional de Cuentacuentos e o Caçando Estórias integra a RNPI - Rede Nacional da Primeira Infância. Participou de vivências e cursos com grandes nomes da narração oral e literatura infantil, como Ebomi Cici de Oxalá, Vanda Machado, Sonia Rosa e Francisco Gregório Filho. Iniciada à Orixá Obá, milita pelos direitos dos povos de terreiro realizando itinerância de espetáculos, rodas de contos e ateliês criativos para crianças em comunidades tradicionais do RJ e PE. Criadora do primeiro canal no Youtube e podcast dedicado as afro-brasilidades para o público infantil, há três anos realiza o evento "Aguerézinho: O Festejo dos Contos" que reúne gratuitamente, no jardim do Museu da Abolição no Recife, crianças e suas famílias para celebrar a literatura, a tradição oral, a diversidade e os legados negros na infância brasileira.
Sobre Camilo Martins (ilustração)
Sempre fui de fazer rabiscos pela casa, em papeizinhos, paredes e outros cantos. Hoje faço esses rabiscos em livros, para que outras crianças possam se sentir à vontade para desenhar por aí. Me formei em gravura na UFRJ em 2017 e trabalho com ilustração para crianças e jovens desde então. Desenhar todas as histórias que aprendi nas ruas, livros, terreiros e rios é a melhor forma que encontrei de entender o mundo. Sempre digo que desenho exclusivamente para crianças (seja com estampas de roupa ou em páginas de livros), porque com toda certeza elas são o único público capaz de entender todas as loucuras desse e de outros mundos. A infância é o que existe de mais sofisticado na humanidade, é onde a gente se solta, onde a gente aprende, onde a gente vence a morte.